MAIS UM TEXTO DA MINHA PÓS-GRADUAÇÃO EM DISFUNÇÕES SEXUAIS, PUBLICADO NA APOSTILA "A SEXUALIDADE EM DIFERENTES FASES DA VIDA", ESTE DE AUTORIA DE MARIANA DA SILVA PEREIRA REIS
Espero que a leitura dele lhes seja útil!!
É interessante observar
que, até a década de 1960, a sexualidade na terceira idade ainda não tinha sido reconhecida, e somente
após vários estudos sobre a sexualidade humana, é que se iniciou o
reconhecimento em relação à existência da sexualidade na terceira idade. Vários
estudos confirmam a grande diversidade na experiência sexual nesta faixa
etária.
A Organização Mundial de
Saúde – OMS – adotou o intervalo entre 60 e os 65 anos para definir as pessoas
idosas. De fato, o componente biológico é ponto crucial no processo do
envelhecimento, mostrando uma dinâmica própria, sobre a qual o ser humano perde
parte do poder de influência e/ou decisão.
O envelhecimento traz várias mudanças
no indivíduo, principalmente nos níveis físico, mental e social. Estas mudanças tendem a afetar a
sexualidade, na medida em que se torna necessário para a pessoa “idosa”
reconhecer que está numa nova fase do ciclo vital e que esta está associada a
determinados acontecimentos, assim como de crises de desenvolvimento próprias
desta fase.
Ao contrário do que se
pensa, a entrada numa idade adulta mais avançada não significa colocar a vida
sexual de lado. Pessoas com vida sexual ativa durante toda a juventude,
provavelmente, apresentam maior atividade sexual na velhice, embora manter uma
atividade sexual contínua ao longo da vida seja o ideal. Se envelhecemos
saudáveis, o maior obstáculo para se manter
uma atividade sexual na terceira idade deveria ser a falta de um parceiro.
Naturalmente, a atividade
sexual nesta faixa etária é bastante
diferente. Os idosos demonstram sentir menor
tensão sexual, costumam ter menos relações sexuais e com menor intensidade
física, já que o tônus muscular que acompanha a relação sexual diminui
bastante em ambos os sexos. Então, parece lógico que o sexo e a sexualidade
façam parte da vida da pessoa idosa, mesmo que haja uma redução da frequência e da intensidade. Porém, se por um lado
há diminuição de energia, força e
vitalidade, por outro há também um aumento
do tempo disponível e diminuição de preocupações profissionais.
O normal é que os níveis
de testosterona diminuam nos homens, o que significa uma demora maior para conseguir uma ereção e
ejacular, necessitando de mais estimulação manual, além do que, os tempos entre as ereções tendem a ser
superiores. As ereções tendem a ser
mais curtas e menos firmes, desaparecem com maior rapidez após a
ejaculação. A disfunção erétil tende a ser maior em homens com doenças
cardíacas, hipertensão e diabetes, mas existem tratamentos que auxiliam neste
processo.
Nas mulheres também podemos perceber uma diminuição dos sinais físicos
relacionados à excitação sexual. É normal que a vagina se torne menos
flexível e necessite de lubrificação para o ato sexual. Mesmo assim, tanto
homens quanto mulheres, idosos, conseguem alcançar o orgasmo e podem sentir
prazer durante sua atividade sexual.
Os seres humanos são seres
sexuados, e, mesmo que doenças ou
qualquer outra situação de vida venha impedir a atividade sexual, os
sentimentos persistem.
É importante que o idoso aceite a sua sexualidade sem vergonha ou
constrangimento, e devem ser dadas as condições de privacidade, aceitação e
abertura para que os técnicos de saúde que cuidam dos idosos tenham uma
comunicação aberta sobre os possíveis problemas relacionados à atividade
sexual, assim como oferecer condições de socialização que permitam uma vida
mais saudável e uma melhor expressão da sexualidade.
A sexualidade na terceira
idade continua sendo um tema que dá origem a diversos mitos, os quais dominam
as crenças da atualidade, onde o homem e a mulher mais velhos são sexualmente
pouco atraentes, e menos capazes de demonstrar interesse por sexo.
Podemos fazer referência a
vários outros mitos (alguns até mesmo surreais para os dias de hoje)
relacionados à sexualidade na terceira idade:
·
O coito e a emissão de sêmen são debilitantes e podem provocar o
envelhecimento e a morte.
·
A vida pode ser prolongada pela abstinência na juventude e pela
inatividade mais tarde.
·
A masturbação é uma atividade infantil que deve ser posta de lado
quando se atinge a idade adulta. Só é praticada por pessoas idosas se estas
estiverem seriamente perturbadas.
·
A satisfação na relação sexual diminui consideravelmente depois da
menopausa.
·
Os homens idosos são particularmente vulneráveis a desvios
sexuais, tais como o exibicionismo e as parafilias.
·
As mulheres idosas que continuam a apreciar o sexo foram provavelmente
ninfomaníacas quando jovens.
·
A maioria dos homens idosos perde o desejo e a capacidade para ter
relações sexuais.
·
As pessoas idosas com doenças crônicas ou deficiências físicas
devem cessar completamente a sua atividade sexual.
·
A capacidade de execução sexual se mantém sempre igual ao longo da
vida.
·
As
pessoas idosas que estão por muitos anos sem atividade sexual não mais poderão
vir a tê-la no futuro.
O processo de envelhecimento implica diversas
alterações ao nível dos determinantes biológicos, que englobam os fatores
genéticos, neurológicos, hormonais, anatômicos e fisiológicos, podendo exercer
alguma influência na vivência do amor e da sexualidade, o que não significa que
determinam a sua cessação, podendo antes exigir alguma adaptação.
No caso dos homens, podemos fazer referência às
seguintes alterações biofisiológicas:
·
Diminuição
da produção de esperma, que se inicia por volta dos 40 anos, mas sem total
desaparecimento.
·
A
ereção é mais lenta e necessita de uma maior estimulação, sendo também menos
firme.
·
Menor
quantidade de sêmen emitido, havendo uma menor necessidade de ejacular e
sensações orgásticas menos intensas.
·
Os
testículos elevam-se menos e mais lentamente.
·
Reduz-se
a tensão muscular durante a relação e aparece outro conjunto de alterações
fisiológicas que acompanham a resposta sexual.
·
O
período refratário alarga-se, ou seja, o tempo entre uma ejaculação e a
seguinte prolonga-se.
Em suma, verifica-se uma
perda nítida de vigor fisiológico nos comportamentos sexuais coitais.
No caso das mulheres, surgem as seguintes
alterações biofisiológicas, que estão associadas a uma diminuição da produção
de estrógeno após a menopausa:
·
Diminui
o tamanho da vagina, que também se torna mais estreita e perde elasticidade
(estas alterações na vagina podem tornar o coito doloroso, caso não se aplique
cremes adequados); porém, a resposta clitoridiana não sofre alterações
importantes.
·
Os
seios diminuem de tamanho e perdem firmeza.
·
A
lubrificação vaginal diminui em quantidade e é mais lenta.
·
A
distribuição de gordura deixa de ser “tipicamente feminina” e dão-se alterações
importantes na figura corporal.
·
As
alterações fisiológicas que acompanham a resposta sexual diminuem
significativamente: os seios quase não aumentam de tamanho; produz-se uma menor
vasocongestão dos órgãos genitais, embora continuem a ser uma zona erógena
privilegiada; diminui a intensidade e a frequência das contrações.
Ainda é possível fazer
referência a outros fatores
psicossociais que condicionam a atividade sexual das pessoas idosas:
·
Relações
rotineiras, insatisfatórias ou conflituosas diminuem o desejo sexual, o grau de
excitação e, progressivamente, as próprias capacidades sexuais.
·
Dificuldades
econômicas ou sociais levam à diminuição do interesse e das capacidades
sexuais, nomeadamente pela situação de tensão e sensação de marginalização que
provocam.
·
Condições
físicas inadequadas, como sejam obesidade, falta de higiene, fadiga física ou
mental diminuem o desejo, as próprias capacidades e as possibilidades de se
tornarem atrativos para os outros.
·
Medo
de não ser capaz de ter relações sexuais coitais ou de proporcionar prazer ao
parceiro limita a capacidade sexual devido à ansiedade e insegurança que
provoca.
·
Atitude
dos filhos e da sociedade em geral, habitualmente muito crítica face à ideia de
que os seus pais possam interessar-se por sexo, leva a que muitas pessoas
idosas se culpabilizem e fiquem limitadas na sua atividade sexual.
Não obstante estes
fatores, alguns teóricos ainda consideram que existam outros fatores que podem
contribuir de forma positiva, permitindo que os idosos possam desfrutar de
experiências gratificantes do ponto de vista das relações sexuais, e também do
ponto de vista dos afetos.
As alterações não
acontecem da mesma forma em todos os idosos. Cada um tem o seu próprio ritmo,
e, para alguns, estas mudanças podem nunca chegar a acontecer. Também é
importante salientar que o modo como cada um vive estas alterações é
completamente diferente.
Alguns idosos encaram como
algo natural, outros encaram de forma mais alarmada e preocupada.
Para melhor lidar com o impacto destas alterações, é interessante
que o idoso tenha contato com profissionais de saúde especializados (médico/a
de família, por exemplo; ou ginecologista, para as mulheres; ou urologista,
para os homens) e/ou psicólogos e sexólogo/a, a fim de obter ajuda para
ultrapassar eventuais dificuldades sexuais que possam surgir nesta fase.